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“As pessoas não mudam, as pessoas crescem”, diz especialista em Medicina Comportamental

por Tribuna Regional
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"As pessoas não mudam, as pessoas crescem", diz especialista em Medicina Comportamental

Juan Carlos Picasso observa que o amor é o único ordenador do sistema nervoso central capaz de combater o distresse

Fotos: JL Rosa

A tentativa de domar o estresse tem levado as pessoas – sobretudo os moradores de grandes cidades – a acompanhar retiros, programações de spas, dentre outras práticas de terapia intensiva, em uma frequência cada vez mais comum. No entanto, a volta à rotina de trabalho e de afazeres diários reduz os efeitos do equilíbrio alcançado, principalmente se os pacientes não mantêm, com disciplina, hábitos de preservação da saúde.

Para o psicoterapeuta argentino Juan Carlos Picasso, especialista em Medicina Comportamental, saber lidar com a questão começa pela compreensão do que significa o estresse. “É o sal da vida. Os únicos que não se estressam são os mortos ou as pessoas que estão muito deprimidas. O estresse é uma resposta que você dá a qualquer situação da vida que interfira no seu estado de equilíbrio”, define.

De passagem pela primeira vez por Fortaleza, Juan proferiu palestra sobre “Como usar o seu cérebro para produzir saúde”, em evento para convidados no Meireles, e falou a respeito do tema “As doenças do estilo de vida e a resposta do sistema de saúde”, em conversa aberta ao público na Universidade de Fortaleza (Unifor) na última quarta-feira (8).

Natural de Buenos Aires, hoje Juan Carlos Picasso reside em Penedo/RJ, a 175km da capital fluminense, onde orienta o programa de restauração do equilíbrio dos hóspedes da clínica e spa Rituaali. Segundo o terapeuta, as populações das metrópoles têm, hoje, um desafio que envolve três variáveis, para não cair no “distresse” (o quadro de estresse excessivo).

A primeira variável se trata da interpretação que cada pessoa faz de uma “ameaça” ao estado de equilíbrio. A segunda envolve as ferramentas disponíveis para se fazer frente a esse estímulo. E a terceira tem relação com o nível de expectativa e exigência que o indivíduo mantém consigo.

Com a experiência da demanda da Rituaali, o terapeuta observa que cada paciente precisa controlar seus sintomas (de distresse), para ter condições de compreender quais são as causas do quadro perturbador. “A identificação das causas representa que a pessoa tem de ter uma estratégia pra mudá-las e encarar um aprendizado novo sobre suas crenças e seu comportamento”, percebe Juan.

O argentino acrescenta que, para não cair de novo em situação de “distresse”, o paciente precisa estabelecer um compromisso consigo próprio. Segundo ele, não se trata de mudar a personalidade ou o temperamento. “As pessoas não mudam, as pessoas crescem”, reflete.

Rede afetiva

O terapeuta desconstrói o mito – comum no Brasil – de que para se dedicar a um processo terapêutico é preciso ter muito dinheiro e tempo disponível. Ele valoriza gestos simples para os quais as pessoas precisam atentar (e praticar), como a troca de abraços, e destaca a importância de se desenvolver uma “rede afetiva” a fim de se alcançar qualidade de vida.

“O único ordenador do sistema nervoso central é o amor”. Há cinco anos, a OMS fez uma pesquisa mundial sobre saúde mental, indicando que, no mundo, a cada 60 segundos uma pessoa se suicida. E a porcentagem mais alta de suicídio tem relação com a classe mais poderosa economicamente. Muita gente tem dinheiro, mas não tem sentido da vida”, analisa.

Para além do poder aquisitivo, Juan sinaliza que a promoção da saúde mental envolve a espiritualidade – um fator de autoproteção muito importante- e o círculo familiar para o indivíduo compor a rede afetiva.

“Quando essa rede não existe, você tem delinquência, vícios, não tem limites, não tem valor por tua vida. Um dos grandes problemas que há no sistema de saúde é o caso do paciente não ter essa rede, e só fazer uma consulta breve. Mas se você tem uma rede afetiva e um sentido religioso (espiritual) pra vida, há ferramentas de autovaloração”, alinha Juan Carlos Picasso.

Sobrecarga

Indagado se há saídas para reduzir o distresse na rotina de trabalho dentro das empresas, o terapeuta explica que a resposta é complexa. “Em primeiro lugar, isso envolve muitos interesses. Mas é interessante ressaltar que, na Alemanha, já existe a jornada de trabalho de quatro dias por semana. Acho que as empresas, no Brasil, estão tendo consciência de que não só os funcionários estão adoecendo e a produtividade caindo… As pessoas de cargos com maior responsabilidade também ficam doentes”, problematiza.

Juan orienta que é preciso desenvolver programas de saúde corporativa para que os trabalhadores saiam desse ciclo de esgotamento. Por ora, ele cita “recomendações acessíveis” aos funcionários. “Que a cada duas horas você tenha 10 minutos de respiração e alongamento. Antes de ir ao trabalho, faça 20 minutos de caminhada para gerar endorfina. E beber, minimamente, um litro de água durante o expediente”, especifica.

Segundo ele, isso já seria bem melhor para o sistema nervoso, aumentaria a capacidade de concentração, e a competência para solucionar situações complexas no trabalho. “Com estas práticas, além de manter o estado de ânimo do trabalhador para ele chegar em casa em condições de ser bem recebido”, qualifica o especialista em comportamento.

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