Home Iguatu Refúgio do soldadinho-do-araripe sofre com falta de conservação

Refúgio do soldadinho-do-araripe sofre com falta de conservação

por Tribuna Regional
0 comentário
Refúgio do soldadinho-do-araripe sofre com falta de conservação

Localizado a cerca de sete quilômetros da sede do município de Barbalha, o Parque Municipal Riacho do Meio é o único dos nove geossítios que compõe o GeoPark Araripe, que está dentro do território barbalhense. Conhecido pelas trilhas ecológicas, nascentes, bicas naturais e formações geológicas, o lugar também é um dos habitats naturais do soldadinho-do-araripe, ave símbolo da região, ameaçada de extinção. Porém, a Unidade de Conservação, atualmente, se encontra abandonada, sem fiscalização e, por isso, pouco atrativa aos visitantes.

De área densa e úmida, no Riacho do Meio há três nascentes que em seu trajeto formam bicas – uma de suas principais atrações. A água que corre é utilizada pelas comunidades do entorno. Já a trilha tem um total de 880 metros e está sinalizada em quase todo seu trajeto. Nela, podem ser encontrados o Olho D’água Branca, a Pedra da Coruja, a Nascente do Meio e a Pedra do Morcego. Este último local, segundo pesquisadores, serviu de esconderijo para os cangaceiros “Marcelinos”, que aterrorizaram a Região do Cariri na década de 1920. Foram capturados pela Polícia em 1928.

É neste ambiente que ainda se preserva o soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni), descoberto em 1996 no distrito de Araraja, também em Barbalha. Com cerca de 15 centímetros de comprimento, a espécie endêmica também vive no Riacho do Meio justamente por sua necessidade de se reproduzir em locais com bastante água.

“É um ponto importante de ocorrência”, resume o biólogo Weber Girão, que lidera as pesquisas sobre a ave através da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis). Além disso, lá é um dos poucos locais onde se encontram vegetais como a rosa-da-mata (Psychotria colorata), que serve para alimentação da espécie ameaçada, assim como pequenos insetos. A planta é facilmente encontrada nas trilhas. Lá, também cresce a samambaia-açu (Cyathea medulis), árvore pré-histórica, considerada um “fóssil vivo”, ameaçada de desaparecer.

Obra

A equipe do Sistema Verdes Mares visitou o local na manhã da última terça-feira (11) e constatou diversos problemas ao longo da trilha. A dificuldade começa na entrada: centenas de canos e caixas d’água, que serão utilizados em uma obra de abastecimento para as comunidades vizinhas, bloqueiam o portão principal. Visitante só entra pelas brechas da cerca de arame farpado.

No trajeto, canos muito extensos retiram água diretamente da nascente. Além disso, há muito lixo. Apesar das lixeiras espalhadas, copos plásticos, garrafas, sacolas e pontas de cigarro são jogados no chão, principalmente nas áreas próximas ao riacho. Fato ainda mais grave foi percebido no Olho D’água Branca, onde resquícios de carvão queimado denunciam a prática de churrasco, que ameaça a Unidade com risco de incêndio. Diante desse cenário e da insegurança, há poucos visitantes.

O diretor-executivo do Geopark Araripe, Nivaldo Soares, explica que os geossítios são eleitos por vários elementos significativos como a própria geologia, história e a biodiversidade. Porém, estes espaços não pertencem à Universidade Regional do Cariri (Urca), com exceção do Parque dos Pterossauros, em Santana do Cariri. Por isso, a administração e manutenção do local é responsabilidade do proprietário do terreno, que, neste caso, é a Prefeitura de Barbalha.

Por outro lado, Nivaldo antecipa que o Geopark Araripe entregou uma proposta ao poder público municipal para celebrar uma parceria para a gestão compartilhada da Unidade. “Teríamos um representante do Geopark, outro da Prefeitura e mais um da comunidade do entorno”. Foram realizadas três reuniões e na última delas chegou a este acordo. “Há cerca de um mês e meio, fui pessoalmente entregar ao prefeito. Estamos aguardando o retorno”.

Prefeitura

O secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Barbalha, Bosco Vidal, informou que os canos que hoje se encontram na entrada do geossítio foram depositadas pela empresa responsável pela obra para evitar furto do material, mas que, em até 60 dias, serão retirados.

Contudo, Bosco reforça que o Parque segue aberto para visitação, porém, tem que haver uma solicitação prévia à Pasta que comanda. “As pessoas que vão lá, entram de forma errada. A gente oferece a quantidade permitida e os horários. Quando pedem autorização, entra em contato com o pessoal da portaria e avisa que está indo. Não pode ser usado como polo de lazer. É como área de preservação mesmo”, define. O secretário garantiu que ficam dois funcionários dando apoio e fazendo a fiscalização do Riacho do Meio, mas nenhum deles foi localizado pela reportagem.

LEIA TAMBÉM

Deixe um comentário

Mais Lidas

leia também

Tribuna Regional ©️ 2023 – Todos os direitos reservados