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Campo de concentração de Senador Pompeu será tombado

por Tribuna Regional
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Campo de concentração de Senador Pompeu será tombado

Os trabalhos para o tombamento, em nível municipal, acabam de ser concluídos pelo Conselho Municipal de Patrimônio de Senador Pompeu Os campos foram criados em 1930 pelo Governo Federal . O de Senador Pompeu confinou mais de 20 ml pessoas, incluindo mulheres e  crianças..

O único Campo de Concentração brasileiro, localizado em Senador Pompeu, no interior do Ceará, está sendo tombado como patrimônio histórico. A iniciativa partiu do Município. O conjunto arquitetônico, localizado no entorno da cidade, onde foi construído o Açude Patu, situado em uma das áreas mais áridas do sertão cearense, o Campo de Concentração do Patu foi utilizando na seca de 1932 – um fenômeno natural sazonal no Nordeste do Brasil – para confinar retirantes que seguiam para a capital cearense, fugindo da seca e da fome. Naquela área, onde está localizado o açude homônimo, milhares morreram de fome e se renderam à mortalha da cólera. Essa tragédia ocorreu pouco mais de uma década após o início da construção da barragem.

Os trabalhos para o tombamento, em nível municipal, acabam de ser concluídos pelo Conselho Municipal de Patrimônio de Senador Pompeu (Compac-SP), explicou o presidente do colegiado e diretor do Departamento de Cultura do Município, Breno Torquato. “Foi um trabalho de muitas mãos. Os levantamentos foram realizados por historiadores, arqueólogos, arquitetos, advogados, professores, religiosos, líderes comunitários e gestores municipais”. Representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Ceará também foram convidados, afinal, dentre as próximas ações estão o reconhecimento em nível estadual e nacional, da maior riqueza material do Município, acrescentou o presidente do Compac-SP

Este ano, o conjunto arquitetônico do Patu está completando o seu primeiro século. O projeto de construção foi iniciado em 1909. A passagem histórica, associada ao sufrágio dos retirantes nordestinos neste lugar, é considerada a data mais relevante para este município emancipado de Mombaça há 122 anos. Com o tombamento, tanto o aspecto turístico como histórico deverão ser explorados, afinal, incluindo os 12 casarões, a Vila Operária e as três casas de pólvora, são a prova material do martírio sertanejo.

Levantamento histórico

O advogado e historiador Valdecy Alves observa esse momento como uma importante conquista para a história brasileira. Deixar esse conglomerado arquitetônico se transformar em ruínas seria mais um erro histórico como o abandono a milhares de concentrados, que pela subnutrição, pela fome, passaram a sofrer as mais variadas epidemias.

O sarampo matou a maioria das crianças no campo. O paratifo, causado por piolhos, levou a raspar as cabeças de todos, homens e mulheres. A disenteria, após as “chuvas do caju”, em plena seca, por volta do mês de setembro de 1932. O Campo de Concentração do Patu perdurou até março de 1933.

“Calcula-se, já que não se faziam atestados de óbitos e os documentos foram destruídos, que morreram cerca de 12 mil pessoas, mais da metade dos concentrados”, disse o advogado e historiador Valdecy Alves.

Proporcionalmente, o campo de concentração que morreu mais gente na história das secas”, enfatiza Valdecy Alves no parecer jurídico elaborado por ele para concretização do tombamento.

Almas da Barragem

A mortandade foi tal, que os mortos foram enterrados no Cemitério da Barragem, local improvisado como um sepulcro coletivo, onde inúmeras valas foram criadas e milhares de mortos postos lá. Por conta disso, o padre italiano Albino Donati criou, em 1982, quando era pároco da cidade, a Caminhada da Seca. Desde então, no segundo domingo de novembro, mais de cinco mil pessoas participam do cortejo, da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores, até o campo santo, em memória das “Santas Almas da Barragem. A caminhada também se transforma em uma mobilização social, por políticas públicas de convívio com a seca, um fenômeno natural que transcende o tempo.

Preservação

Com aproximadamente 2 km de comprimento e 1,5 km de largura, o Campo de Concentração do Patu é o único preservado das histórias das secas no Brasil, mesmo em ruínas. Composto pelo seu patrimônio material e imaterial, pode ser visitado por turistas e estudado por pesquisadores.

“Manter viva a história de dor dos flagelados da seca é tarefa árdua, porém necessária para que esta não se repita. Sendo assim, os órgãos públicos, aqui representados, neste pedido de tombamento, pelo poder municipal, devem ter a responsabilidade com esta manutenção da história e também com a Caminhada da Seca que tem como propósito principal louvar a coragem daqueles que sofreram por não terem tido a sorte da riqueza, viviam à mercê de governos tiranos que os privavam do mínimo de condições para lhes garantir a vida”

completa o pedido de tombamento.

Os campos

Na década de 1930 o Governo da República instalou sete Campos de Concentração no Ceará. Na capital foram dois, o do Matadouro e do Urubu; um em Ipu; um em Quixeramobim; um em Cariús e o Campo do Buriti, no município de Crato. O do Açude Patu, em Senador Pompeu, completa a lista.

Nele, foram utilizados todos os casarões, armazéns e casas de taipa para o confinamento de mais de 20 mil pessoas, incluindo mulheres e crianças. O de Fortaleza também recebeu milhares: 100 mil retirantes passaram por lá. Por isso, o tombamento é vital para que os erros do passado não se repitam.

Naquela área, onde está localizado o açude do Patu, milhares morreram de fome e se renderam à mortalha da cólera. A tragédia ocorreu pouco mais de dez anos após o início da construção da barragem.

Diário do Nordeste

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