A compra de 20% da Latam pela aérea americana Delta Airlines, por US$ 1,9 bilhão, anunciada na noite de quinta-feira (26), muda a estrutura do setor em termos globais. Primeiro, porque a Latam era parceira da American Airlines desde 2013 – e havia anunciado acordos que intensificavam essa parceria há três anos. Depois, porque a Delta é dona de 9,4% no capital da Gol, sua principal concorrente no mercado brasileiro. As parcerias terão de ser refeitas e os acordos, modificados.
O negócio foi impulsionado por uma decisão da Suprema Corte do Chile, de maio, que reprovou o acordo entre Latam, American Airlines e IAG (British e Iberia). Apesar da aprovação da autoridade reguladora chilena (onde está a sede da Latam), o tribunal considerou que havia ameaça à livre concorrência pela alta concentração de mercado.
“Como a sobreposição é menor com a Delta, a tendência é que não haja problema de novo”, diz Jerome Cadier, presidente da Latam Brasil. “A única rota na qual as duas companhias operam é Nova York-São Paulo e há uma complementaridade grande (entre as duas operações).”
A Delta comemorou o acordo dizendo que, juntas, as empresas terão posição de liderança nas rotas para os Estados Unidos e em cinco, dos seis maiores mercados da América Latina. “A aliança com a Delta vai fortalecer nossa companhia e a nossa liderança na América Latina ao promover a melhor conectividade por nossa malha aérea altamente complementar”, afirmou Enrique Cuetom, presidente do grupo Latam, em nota.
As companhias voam para 435 destinos e transportam mais passageiros que qualquer outra parceira entre aéreas na região. “A Delta tem tido uma estratégia de expansão agressiva e a Latam é o competidor que tem a maior participação no conjunto da América do Sul”, afirma André Castellini, especialista em aviação da consultoria Bain & Company.
Investimentos
Além da comprar parte da Latam, a Delta se comprometeu a adquirir aviões da companhia e a investir US$ 350 milhões para apoiar a parceria estratégica. Entrarão no negócio quatro aviões modelo A350 da Latam. A Delta também assumirá o contrato de compra de dez modelos do A350 serem entregues entre 2020 e 2025
Com o acordo, a Delta terá duas, das nove cadeiras do conselho da Latam. A aérea fez uma oferta por US$ 16 por ação, pagos principalmente com a emissão de dívida e disponibilidade de caixa da empresa americana. “Pagar 80% acima do preço do mercado mostra o valor que a delta dá à Latam”, diz Cadier.
Segundo o comunicado, a operação melhorará a geração de caixa da Latam e deve reduzir a dívida da empresa em cerca de US$ 2 bilhões até 2025.
Procurada pela reportagem, a Gol informou que o atual acordo de compartilhamento de voos com a Delta representa 0,3% da receita total da empresa e 3,5% dos resgates de pontos do programa Smiles. “Todos os Clientes da Gol e da Delta que adquiriram passagens dentro desse acordo de compartilhamento de voos terão seus bilhetes honrados normalmente”.
Por outro lado, a Delta irá vender sua participação na Gol, segundo Cadier. “Tanto uma como outra (Gol e American Airlines) vão estudar parcerias para compensar”, disse ele. “Se isso vai significar uma parceria entre ambas, não sei”.
As mudanças terão impacto também nas alianças globais. A Latam deixará a One World e integrar a Sky Team, hoje liderada pela Delta, Alitália, Air France e KLM. Dos R$ 350 milhões, R$ 25 milhões irão para a multa para deixar a One World. “A princípio a aquisição deve ter impacto na distribuição de rotas, com mais conectividade nas linhas Delta e Latam”, diz o advogado Felipe Bonsenso.
Ontem, os papéis da Gol negociados na Bolsa de Nova York recuavam 9,37% após o fechamento do mercado. No Brasil, as ações registraram o maior giro da B3