O trabalho para resgatar possíveis sobreviventes segue incessante nos escombros do Edifício Andrea, no bairro Dionísio Torres, em Fortaleza. Toda chance de vida é celebrada no local. No fim da noite dessa quarta-feira, a possibilidade de comunicação de uma vítima com o Corpo de Bombeiros intensificou ainda mais os trabalhos. Sobre os escombros, foi possível ouvir os gritos dos profissionais tentando manter o contato.
Foram intensos os apitos e pedidos, até agoniados, de silêncio, assim como incontáveis solicitações por baldes para carregar os concretos. “Já tem voluntários com as mãos feridas por falta de luvas industriais”, diziam os voluntários. Até o fechamento dessa edição, 1h30, não houve a retirada desse possível sobrevivente, mas as buscas seguiram intensas, assim como a chegada e saída de voluntários, familiares e curiosos.
Segundo o Corpo de Bombeiros, três pessoas foram encontradas mortas – sendo duas identificadas, 7 resgatadas com vida e outras 7 continuam desaparecidas. Um dia após a ocorrência, alguns sobreviventes deixaram as unidades de saúde e ainda outros seguem hospitalizados. A angústia permanece entre aqueles familiares e amigos que aguardam os desaparecidos.
Ontem, outros dois corpos foram encontrados pelos Bombeiros. Até a noite, somente um deles foi identificado. Segundo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), o da idosa Izaura Marques Menezes, de 81 anos. Na família de Izaura, além dela, o esposo Vicente de Paula Vasconcelos de Menezes, a filha Rosane Marques Menezes e o neto Fernando Marques, foram vítimas do desabamento. Vicente e Rosane até ontem à noite seguiam desaparecidos. Conforme os números oficiais, 7 sobreviventes foram encontrados.
Salvamento
Levantamento do Sistema Verdes Mares (SVM) aponta que os sobreviventes resgatados são: Cleide Maria Carvalho; Gilson Gomes; Antônia Peixoto Coelho; Davi Sampaio, Fernando Marques, Francisco Rodrigues Alves e João Ycaro Coelho de Menezes. Os números oficiais de pessoas resgatadas variou durante o dia. Por fim, os Bombeiros alegaram que havia nomes em duplicidade na lista.
Entre os sobreviventes, apenas os jovens Davi Sampaio, Fernando Marques e João Ycaro Coelho de Menezes deixaram as unidades de saúde. No caso de Davi, o irmão dele, Rômulo Sampaio, contou que a família desabrigada está dormindo dividida nas casas de parentes e amigos. “A gente tá muito feliz porque o Davi se salvou. Mas minha mãe ficou muito abalada. Minha mãe é todo tempo chorando. A gente perdeu tudo”, ressalta.
No momento da ocorrência, os pais de Davi e Romulo, moradores do apartamento há sete anos, haviam saído do prédio. “Meu pai antes de sair para trabalhar, falou ‘isso aqui tá meio errado'”, conta Romulo. A família agora, explica ele, terá que se reorganizar, pois além da perda dos vizinhos e do trauma, padece com a perda do patrimônio construído durante anos.
Outra vítima que segue internada é o funcionário do Edifício Andrea, Francisco Rodrigues Alves. Ele atuava como o zelador e porteiro e trabalhou 20 de seus 59 anos no local. Francisco sobreviveu após conseguir correr durante o desmoronamento até o portão que dava acesso à rua Tibúrcio Cavalcante. Ele foi internado no Hospital Distrital Edmilson Barros de Oliveira (Frotinha Messejana) e até ontem pela manhã aguardava uma transferência para fazer uma cirurgia no Instituto Doutor José Frota (IJF). Conforme relatado por Francisco, o prédio sempre deu sinais de que poderia cair. O porteiro contou ainda que no momento da ocorrência, a síndica e mais três trabalhadores da reforma estavam no térreo.
O sobrevivente Gilson Moreira Gomes, que estava no mercadinho vizinho ao prédio e foi socorrido no IJF, ontem passou por cirurgia. Conforme o filho, Nazareno Façanha “o médico disse que a situação dele é delicada e que ele ainda precisa de outras cirurgias. Ele vai ter que colocar ferro, pino, um monte de coisa”.
Já João Ycaro Coelho de Menezes, sobrinho da idosa Antônia Peixoto Coelho que segue internada em um hospital particular, segundo parentes, após ser resgatado também foi encaminhado para o Frotinha de Messejana. Ele sofreu apenas escoriações, foi medicado e ficou em observação. Ontem ele foi liberado e está abrigado na casa de uma prima. Ycaro é sobrinho de Antônia e, segundo os parentes, no momento da ocorrência, os dois estavam no apartamento 601 do edifício, onde ela residia há 17 anos. Em relação à Antônia, o estado de saúde da idosa, conforme informado pelos familiares, é grave e ela segue internada na UTI.
Familiares da psicóloga Nayara Pinho Silveira, de 30 anos, e do seu pai, Antonio Gildásio Pinho Silveira, 60, tentaram contato com os dois mas não tiveram nenhum retorno desde o desabamento do prédio. Pai e filha moravam no apartamento 301 do Andrea. Os parentes acreditam que ambos estavam no edifício no momento da queda.
“Como estamos morando no Piauí o irmão do meu pai ligou dizendo sobre o prédio, mas não tinha certeza se era o da Nayara. Pouco tempo depois ele ligou confirmando, foi quando todo mundo da família ficou sabendo e começou a ligar para os dois, mas a gente não conseguiu contato”, disse a universitária Taslene Cavalcante Pinho, 39, prima de Nayara. Na tarde de ontem na Rua Joaquim Nabuco, uma amiga de Nayara que preferiu não se identificar acompanhava os trabalhos de resgate. Segundo informou, Nayara costumava sair para trabalhar próximo do horário em que o edifício desabou