Malabarismo e Samba de Roda, uma mistura que promete unir duas culturas em um mesmo ritmo: a arte. Desde o último dia 22, um intercâmbio entre o projeto cearense Circo Multicor, em Beberibe, e a “Compagnie des Contraires”, que trabalha com a socialização de jovens na França, assessorando, principalmente, mulheres migrantes, protagoniza a troca de saberes entre meninas cearenses e francesas.
O intercâmbio de experiências educacionais e artísticas focadas em causas sociais surgiu após observada a ponte entre as duas experiências. “O público que eles (projeto francês) atendem é muito semelhante ao nosso. Em agosto deste ano, a coordenadora do Compagnie des Contraires esteve aqui no Ceará e conversamos para fechar a parceira”, lembra Lucelena Onorato, idealizadora e coordenadora do Circo Multicor.
Neusa Thomasi, brasileira que fundou a Compagnie des Contraires, em 1991, em Paris, afirma que espera que a parceria dê frutos. “Pelo menos uma vez por ano nós visitamos um país estrangeiro. Queremos fechar essa parceria aqui também para ficarmos intercalando os intercâmbios. Vamos tentar facilitar o processo”, garante.
Abraçando o Projeto
Maria Antonia, de 13 anos, é integrante do projeto cearense há cerca de cinco anos. Ela conta, animada, que participa de inúmeras vivências no circo-escola, como “teatro, bijuteria, fabricação de bonecas”, mas o que mais gosta é o Samba de Roda. “Nós ensaiamos, aprendemos e passamos nossas danças e tradições às meninas (francesas). Samba de Roda é a dança que eu mais gosto, é uma forma de eu me expressar”, fala a estudante.
A partir das 19h de hoje (29), o grupo formado por dez meninas cearenses, cinco francesas e mais duas artistas que vieram com a companhia europeia farão uma apresentação unindo questões culturais e atividades circenses. Intitulado “Pena de Nanquim – Plume D’Ancre, em francês”, o espetáculo acontecerá na Prainha do Canto Verde, em Beberibe, e promete fazer com que o público reflita sobre questões humanas e ambientais.
Vamos fazer uma apresentação com bastões e expressar tudo do mundo que estamos vendo hoje. Eu nunca tinha feito isso antes, de circo, é a primeira vez e o pessoal gosta de ver coisas novas – Maria Antonia.
Ontem (28), o grupo também se apresentou em Beberibe, na sede do Circo Multicor, em atividade aberta ao público.
O fotojornalista, de 35 anos, Paulo de Araújo, brasileiro que viaja o mundo acompanhando as ações do Compagnie des Contraires, conta que os resultados no Ceará já podem ser observados. “Eu já conheço o Ceará e o trabalho está sendo muito positivo porque a equipe é operativa”, garante. Ele está acompanhando todas as atividades desenvolvidas durante o intercâmbio e compondo registros fotográficos.
Circo Multicor
Em 2014, o Circo Multicor começou a atuar em nove escolas da rede municipal de ensino e serviços de convivência da assistência social em Beberibe. Em 2018, o Projeto se transformou na Organização da Sociedade Civil (OSC) – Sociedade Assistencial de Beberibe, dando continuação ao trabalho por uma infância e adolescência sem racismo e ampliando o quadro de atendimento para 25 escolas.
O principal objetivo do Projeto é valorizar as tradições da população afrodescendente e indígenas. “Acreditamos que isso favorece a desconstrução dos preconceitos, na desnaturalização do racismo”, explica a coordenadora do Projeto, Lucelena Onorato. Ela conta, ainda, que é preciso a ajuda financeira para realizar o próximo sonho: “no próximo ano a intenção é levar o Circo Multicor até a França”, finaliza.