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Aos 94 anos, comerciante mais velho do Centro de Juazeiro do Norte ainda dirige

por Tribuna Regional
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Aos 94 anos, comerciante mais velho do Centro de Juazeiro do Norte ainda dirige

Com oito filhos, 16 netos e mais oito bisnetos, o empresário José de Sá Barreto Grangeiro, aos 94 anos, poderia ter escolhido uma vida mais “tranquila”, mas mantém sua mesma rotina, em Juazeiro do Norte, desde 1969: acorda cedo e abre sua loja, em plena Rua São Pedro, principal rua comercial da cidade. O barulho do Centro, as calçadas estreitas e o trânsito lento não o impedem de exercer diariamente o que mais ama: vender “miudezas”, como ele mesmo descreve. Mais que isso: ele vai e volta do trabalho sozinho, dirigindo seu Fiat Uno.

Natural de Barbalha, José Grangeiro trabalhava nos Correios fazendo o transporte de mercadoria entre Juazeiro e sua cidade. Paralelo a isso, começou a vender jornais e revistas, nas horas vagas, que chegavam por correspondência. A veia de comerciante cresceu com as peças de ouro com nomes gravados, como bracelete, pulseira e cordão, que revendia em troca de comissão. “Juntei muito dinheiro”, lembra.

Com 4 mil cruzeiros, abriu a Casa Granjeiro, em Barbalha, em 1948, onde vendia utilidades do lar, como louças, ferramentas, enlatados, entre outras coisas. Em 1969, abriu uma filial no Centro de Juazeiro do Norte, que continua aberta até hoje. “Aqui antes era só capim. Não tinha nada na frente não. O Orlando Bezerra passou pra mim, peguei o prédio, ajeitei e paguei”, narra o comerciante. Foi assim que construiu sua casa, comprou carro e educou os oito filhos — dois já faleceram.

Hoje, o empresário só trabalha pelo período da manhã e tem apoio de sua família, principalmente da esposa, Terezinha Teles Grangeiro – que completarão 70 nos de casado. “Ele tem que descansar um pouco”, admite seu filho, o engenheiro Afonso Teles Grangeiro.

De perto, ele viu o crescimento de Juazeiro do Norte a quem classifica como “o verdadeiro milagre do Padre Cícero”, mas reconhece as transformações. “Nenhum colega meu antigo trabalha mais. Todos já morreram”, lamenta o comerciante.

Direção

Há três anos atrás, Afonso encontrou seu pai triste, porque sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH) havia se vencido. Os dois foram juntos à sede do Detran, realizaram os exames e teve sua licença renovada. “Estava com 91 anos. Ele conseguiu ler direitinho todas as letras que a médica pediu”, garante o engenheiro. Regulamentado, ninguém impede José de dirigir.

Eu gosto. Não vou botar ninguém pra dirigir para mim se consigo ainda. Em todo canto eu ando legal, como qualquer um outro”, destaca o empresário.

Mesmo com a idade avançada, sua ida diária à loja mantém o comerciante mais saudável e, consequentemente, mais feliz. “Fazer nada, eu acho ruim. Ave Maria!”, reforça. Porém, a lucidez e o vigor que mantém, por pouco, não foram interrompidos em 1974, quando sofreu um acidente doméstico, caindo de cabeça no chão de uma altura de seis metros, enquanto mexia em uma antena de TV.

Com traumatismo craniano, José passou um mês em coma, em Recife, e mais três meses para recuperar a memória. “O médico disse que foi um milagre”, conta o filho Afonso.

Há 10 anos, sofreu outra queda, mas se recuperou, assim como se curou de um câncer na garganta, que tirou um pouco da força da voz. “Fora isso, estou muito bem”, indica.

Seu funcionário mais antigo, Ângelo Farias de Macedo, que completará 29 anos de fidelidade ao estabelecimento, reforça a boa relação que mantém com seu patrão. “É uma pessoa tranquila. A forma dele é essa. A gente sempre vê ele alegre. O trabalho é o que o fortalece”, acredita. Mesmo sabendo que o comércio, em época de crise, não tem a mesma força de outras épocas, para José é outro significado: “Isso é minha vida!”.

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