Crescimento populacional e sustentabilidade devem caminhar de mãos dadas para obtenção de um desenvolvimento saudável. Apesar da premissa, isso raramente acontece. O resultado dessa ruptura causa desarmonia e impacta, dentre outras questões, o meio ambiente. Um dos principais gargalos é manter a qualidade da água nos centros urbanos, poluídas com lançamento de efluentes clandestinos ligados na rede de drenagem pluvial, ou provenientes de bairros ainda sem saneamento. Com a proposta de tentar reverter esse quadro, a cidade de Sobral implantou, há um ano, o projeto Jardins Biofiltrantes.
O objetivo é realizar a filtração da água (fitorremediação) beneficiando, assim, o ecossistema aquático. O local escolhido para receber o projeto foi o riacho Pajeú, que corta a cidade, passando por dois parques, desaguando na Lagoa da Fazenda, e posteriormente no Rio Acaraú, que é o grande foco do projeto. A ideia é devolver a balneabilidade do afluente.
Agora, o projeto já começa a mostrar os resultados. “O mau cheiro no riacho era intenso e podia ser sentido de longe. Hoje, a situação é diferente, a paisagem está se transformando, e na maior parte da área não há mais mau cheiro”, descreve Bruno Ary, diretor de Parques, Jardins e Unidades de Conservação da Agência do Meio Ambiente.
O sistema funciona a partir do crescimento de plantas aquáticas instaladas em “tanques”, associadas a bactérias que na zona de raízes fazem a imobilização e transformação de compostos orgânicos e inorgânicos provenientes da poluição em recurso nutricional para o seu crescimento. Essa intervenção é feita no curso da água, para que sua filtragem ocorra naturalmente.”
Quando o tanque está cheio de vegetação – a biomassa – que foi formada a partir de elementos químicos retirados da água, ela é cortada e utilizada para outros fins, como a compostagem. O corte da parte aérea das plantas estimula a rebrota e o crescimento, gerando assim um bombeamento constante de compostos indesejados na água, que sai transparente após passar pelo jardim”, explica o gestor.
Além disso a vegetação adensada serve de abrigo para diversas aves, sapos, libélulas e insetos, que resgatam o funcionamento da cadeia alimentar, deixando o ecossistema mais equilibrado, sendo assim possível haver um controle de espécies indesejadas como mosquitos vetores de doenças, que são um problema sério de saúde pública.
Ary explica que o projeto faz parte de um conjunto de soluções “baseadas na natureza”, que influenciam diretamente na qualidade de vida urbana, tanto no saneamento ambiental como no aumento da biodiversidade e criação de habitat para espécies nativas.
“Traz ainda um ganho paisagístico, pois trata-se de jardins com espécies ornamentais e bastante floríferas, deixando a paisagem viva, atrativa e colorida”, acrescenta.
Estruturação
O projeto contempla dois eixos: o sistema de alagados construídos e o sistema de alagados naturais. O primeiro se refere à escavação de 14 tanques artificiais impermeabilizados. Já o natural é o próprio leito do riacho, que foi desassoreado, passou por controle de espécies daninhas, e está recebendo plantio das espécies próprias do jardim filtrante. O investimento foi de R$ 2 milhões, com parte dos recursos do Município e outra parcela advinda de financiamento do Banco de Desenvolvimento da América Latina.