Arte: Núcleo de Publicidade da Alece
Estresse, sobrecarga de trabalho, dificuldades financeiras, conciliação de múltiplas atividades, privação de sono. Essas são apenas algumas das muitas causas que podem levar ao sofrimento mental e adoecimento. Junte-se a isso o preconceito com o tema e as dificuldades de conseguir ajuda especializada.
Essa soma de fatores leva a um cenário difícil e muitas vezes impossível de superar, chegando até o mais extremo dos atos: o suicídio. Sim, apesar dos tabus que cercam o tema, é preciso entendê-lo a fim de elaborar políticas públicas eficazes.
Para dar mais visibilidade a esse assunto, existe, desde 2014, a campanha Setembro Amarelo, que em 2023 tem como mote “Se precisar, peça ajuda”. Organizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina, ela mobiliza entidades de todo o País com o objetivo de prevenir o suicídio e conscientizar sobre a necessidade de cuidado com a saúde mental.
E a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) mais uma vez abraça a causa com a realização de uma série de atividades, tanto internamente quanto em diálogo com a sociedade, para estimular a prevenção do adoecimento e a elaboração de políticas públicas e leis que contribuam para o desenvolvimento de ações na área da saúde mental.
A primeira-dama da Casa e idealizadora do Comitê de Responsabilidade Social (CRS) da Alece, Cristiane Leitão, informa que, durante o Setembro Amarelo, a Casa realiza ações de “conscientização para a prevenção ao suicídio, expondo a importância de organizar os pensamentos, manejar as emoções e entender que existe apoio especializado para as pessoas que estejam em momento de aflição”.
Segundo ela, a criação do CRS em 2021 possibilitou que o Parlamento cearense passasse a “oferecer serviços voltados para o cuidado com a saúde mental”. Cristiane Leitão cita, como um dos exemplos, a abertura da Célula de Saúde Mental e Práticas Sistêmicas Restaurativas na Alece. Inicialmente proposta a partir de conversas com os servidores e observação de aumento de casos de adoecimento, atualmente ela tem uma atuação expandida para fora da Alece. “Hoje a célula atua na promoção do bem-estar e qualidade de vida, por meio de ações que envolvam não somente os funcionários da Alece, mas toda sociedade cearense”, contextualiza.
SAÚDE MENTAL E PRÁTICAS SISTÊMICAS
A Célula de Saúde Mental e Práticas Sistêmicas foi também criada em 2021. De acordo com a psicóloga da célula, Carina Diógenes, há três eixos de atuação: servidores, governança e gestores, conforme ela explica no áudio abaixo:
“Quando a gente ouve a palavra saúde mental, imediatamente as pessoas associam a adoecimento. E não é. Se a gente pegar o que a Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza, a saúde mental é o bem-estar global do ser – físico, emocional, espiritual e social”, explica Carina.
Outro ganho para os servidores e seus dependentes foi a ampliação do Plantão Psicológico, a partir de uma articulação entre as células de Saúde Mental e de Psicologia. O atendimento passou a ser feito todos os dias. Há também a realização de rodas sistêmicas semanais para trabalhar diversas temáticas com os servidores. A participação é aberta a todos e os encontros ocorrem às quartas-feiras à tarde e às quinta-feira pela manhã. A temática de cada roda é divulgada por meio dos canais da Comunicação Interna da Alece.
A Alece tem investido ainda no treinamento dos servidores para atender melhor a sociedade e usar uma comunicação não violenta. Segundo Carine Diógenes, a ação foi realizada com os funcionários do DSAS e, após o Setembro Amarelo, será expandida para outros setores. Outra parceria do núcleo é para a realização do projeto Em Rodas de Biblioterapia, coordenado pela servidora e biblioterapeuta da Alece, Jacqueline Assunção. E em agosto foi lançado o Afetos Literários, no qual uma estante itinerante percorre os prédios da Casa.
A célula tem uma participação ativa em ações voltadas para a sociedade, tanto no Setembro Amarelo como ao longo do ano. Uma delas é a Oficina Despertar, criada em 2021 e voltada a discutir a prevenção do suicídio nas escolas públicas do Estado, utilizando a “Cartilha Despertar” desenvolvida pela equipe de psicologia da Alece e publicada pelo Instituto de Estudos e Pesquisas sobre o Desenvolvimento do Estado do Ceará (Inesp) – e agora uma parceria para trabalhar com jovens aprendizes do programa Primeiro Passo, da Secretaria da Proteção Social (SPS).
Ainda nessa perspectiva, há também o Cine Alece, em que adolescentes de escolas públicas assistem a uma sessão de cinema com obras que abordam temáticas como síndrome de Down, gênero e diversidade, prevenção ao suicídio, entre outras. Após a exibição, é realizada uma roda de conversa para aprofundar o conhecimento sobre o assunto retratado na obra. Entre 1.500 e 2 mil alunos já participaram do projeto.
Além disso, a célula também promove momentos de educação continuada de forma on-line, atendendo a convites da sociedade, de outros órgãos públicos e de universidades.
Na avaliação de Alessandra Silva Xavier, professora fundadora do curso de Psicologia da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), ações como essas no ambiente de trabalho e nas escolas são fundamentais, “para que seja possível a identificação da existência de sofrimentos psíquicos graves, a fim de que recebam a ajuda multidisciplinar a tempo, de forma adequada e contínua”.
NÚMEROS DE OCORRÊNCIAS NO CEARÁ
Ao longo da última década, o Ceará teve um aumento de 27,6% na taxa de suicídio – passando de 5,8 óbitos/100 mil habitantes em 2010 para 7,4 óbitos/100 mil habitantes (ver gráfico abaixo). É o que aponta o Boletim Epidemiológico “Mortalidade por Suicídio e Notificação por Lesão Autoprovocada”, divulgado pela Secretaria da Saúde do Ceará em 2022.
Arte: Núcleo de Publicidade da Alece
Nele, é possível perceber ainda uma grande diferença nas taxas, a depender do gênero. Em 2021, por exemplo, a taxa de mortalidade entre as mulheres foi de 2,9 óbitos por 100 mil pessoas, enquanto que entre os homens ela salta para 12,2 óbitos por 100 mil pessoas. A professora Alessandra Xavier aponta algumas explicações para essa discrepância no áudio abaixo:
Segundo a docente, é possível estabelecer diferenças nas motivações para o suicídio também entre as faixas etárias. No idosos, são causas mais presentes a existência de doenças crônicas limitantes, isolamento social e perda de vínculos. Já entre os jovens são observadas questões como violência sexual, bullying, impulsividade, desesperança, uso abusivo de álcool e outras drogas, além de integrar determinados grupos vítimas de preconceitos, como LGBTQIAP+, negros e indígenas.
COMO IDENTIFICAR E PREVENIR
Alessandra Xavier cita alguns indícios que ajudam a identificar uma pessoa em risco para o suicídio:
• Verbalização de frases pessimistas como “seria melhor que eu estivesse morto” ou “seria melhor que eu não existisse”
• Doação de objetos pessoais por pessoas em situação de depressão ou tristeza
• Escrita de mensagens de despedida
• Compra de produtos utilizados para cometimento do suicídio – segundo a OMS, os métodos mais comuns são ingestão de pesticidas, enforcamento e uso de armas de fogo
• Desesperança e falta de objetivos na vida
• Pessoas com oscilações de humor e/ou em estado depressivo grave
• Luto prolongado
• Vítimas de bullying ou violência sexual
• Excesso de impulsividade
• Pessoas com dificuldades de sono há mais de duas semanas
• Pessoas isoladas socialmente, sem amigos ou suporte da família
• Pessoas em situação de desemprego
• Pessoas vítimas de rejeição, preconceito ou assédio
• Uso abusivo de álcool e outras drogas
• Pessoas com transtornos mentais não tratados
“Todas essas situações não necessariamente significam que a pessoa vai fazer uma tentativa, mas podem compor o que a gente chama de indicativo de risco e que merecem uma atenção mais próxima, um olhar mais delicado e um acompanhamento”, comenta a professora.
Para Alessandra Xavier, é preciso ter uma rede de atenção psicossocial capaz de acolher e cuidar das pessoas com transtornos mentais, conforme avalia no áudio abaixo.
A professora ainda pontua que a prevenção ao suicídio é realizada em três níveis. O primeiro é universal e dirigido a toda a população, por meio de campanhas de conscientização e combate ao preconceito, como o Setembro Amarelo, além de promoção de acesso aos serviços públicos de saúde mental. O segundo nível é o da prevenção seletiva, voltada “a determinados grupos que a gente considera que estão em risco por serem vulnerabilizados”. E o terceiro é a adoção de estratégias de prevenção a pessoas que já apresentam um comportamento de risco.
Esta é a primeira de uma série de matérias sobre o Setembro Amarelo realizada pela Agência de Notícias da Alece. Participam dela os repórteres Geimison Maia e Pedro Emmanuel Goes; as editoras Clara Guimarães e Lusiana Freire; o fotógrafo Máximo Moura; a revisora Carmem Ciene e o Núcleo de Publicidade Institucional da Casa.
Confira outras matérias já publicadas no site da Alece relativas às ações da Casa no Setembro Amarelo:
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Edição: Clara Guimarães